sexta-feira, 26 de junho de 2009

Os pés.

Aqueles pés. Como não os notei antes? FABULOSOS! Mesmo dentro de um ônibus parado eu podia perceber isso.Unhas... Tão cuidadosamente pintadas de vermelho. O que fariam aqueles pés? Andariam? Dançariam?Correriam?
O ônibus começa a se movimentar.
Olho para o chão.
Vejo couro e fivelas, com uma sola cuidadosamente colocada.
O ônibus vai a algum lugar.
Quero descer.
Quero poder utilizar meus próprios pés.

Por mais que tentasse...

Não conseguia terminar. Aquela suave melodia não queria de maneira alguma ser tocada por mim. A cada erro, meus dedos cansados reclamavam, meu pulso latejava,pensava em desistir.

O dia do recital chegou , sabia que não conseguiria, mas mesmo assim fui.
Entrei.
Toquei.
Errei...
Errei...
Errei...
Um dia eu ainda a acertarei, e os erros não vão ser importantes, pois algum dia a melodia foi tocada perfeitamente...
Uma vez.
Por mim...
Por mim...
por mim...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Querida Imortal...

Conto antigo....




Não houve um dia desde os meus cinco anos em que deixei de observar aquela casa na Avenida Afonso pena. Curiosidade infantil sem nenhum Preâmbulo do futuro? Provavelmente. Sempre passava em frente à casa, com uma de minhas mãos segurando uma vareta que incansavelmente passeava pelas grades que cercavam a residência.
Enquanto isso a minha outra mão estava sendo fortemente puxada por minha mãe para que eu parasse de bater a vareta nas grades. Ora, eu era um menino de quatro anos. Não estava ligando se atormentava os cachorros, ou qualquer um que ali vivia. Queria mesmo era ouvir o “tec tec” e sentir minha mão tremendo.Simplesmente uma daquelas coisas que crianças gostam, e que, com o passar dos anos, se tornam completamente sem sentido. Mas minha diversão sempre acabava da mesma maneira, quando- sem nenhum aviso- minha mãe tomava a vareta da minha mão e falava que ali tinha uma bruxa, e que ela ia me pegar se eu não parasse.
Como eu chorava. Uma criança em 1920 era bem diferente de uma nos dias de hoje. Acreditávamos em tudo que nos diziam, principalmente quando quem falava era um de nossos pais.
O tempo passava. Ocorreu a breve visita dos reis da Bélgica, a mudança do nome da Praça 12 de outubro, para sete de setembro, a chegada do obelisco, também conhecido como “pirulito”. Finalmente chegamos em 1931, na minha adolescência. Eu era o típico adolescente mineiro de 16 anos. Flertava com as jovens na praça da liberdade aos domingos de manhã, ia a barzinhos e clubes, e até uma simples caminhada pela cidade jardim conseguia ser bastante divertida.
Em uma dessas caminhadas conheci Rosa Bohrer, Uma jovem senhora de 36 anos, casada com um alemão. Conversamos por horas a fio, ela me falou que eu a fazia voltar à adolescência. Rosa era uma mulher encantadora no auge de sua beleza, como se nunca tivesse passado dos 25. Mantinha os cabelos longos, bem diferente da moda da época. Grandes olhos azuis em contraste com a pele bronzeada e o cabelo mel. Era realmente de uma beleza única.
Já eu era um menino, que já deveria ter as formas de um homem, mas pouco tinha. Era magrelo, cabelos castanhos e lisos caindo no rosto cheio de sardas. Também era bem pequeno. Era menor do que Rosa!
Esses pensamentos passavam pela minha cabeça, mas mesmo assim não consegui controlar minha atração por ela.
Ao fim da conversa andamos pelo parque municipal até chegar à Avenida Afonso pena. Continuamos a caminhar até que Rosa parou em frente à casa em que eu costumava batucar com a vareta nas grades. “É aqui que eu moro” Disse ela. Não posso negar, fiquei espantado.
Minha mãe estava certa. Existia uma bruxa naquela casa e ela conseguira facilmente me enfeitiçar. Ela era minha Medéia. Com pesar nos despedimos, e, por cerca de três meses, não vi Rosa.
Quando voltei a encontrá-la foi por acidente. Estava passando pelas redondezas e a vi correndo atrás de um cachorro. Era um grande akita negro, ela jamais conseguiria pegá-lo. E eu com intuito de ajudar cerquei o cachorro e o segurei. Confesso, foi uma atitude estúpida da minha parte,mas, quando vi Rosa ali correndo, não pensei no cachorro como um ser vivo, não pensei que ele tinha dentes, e nem uma mandíbula bem forte para se defender.Muito menos que seria visto como uma ameaça para ele. O resultado vocês já sabem, uma bela mordida no meu braço direito. Mas eu não posso realmente reclamar dessa mordida. Alguns minutos depois, o akita estava preso e eu sentado na sala de estar da casa de Rosa. Ela veio correndo com uma caixa de primeiros socorros e limpou e enfaixou meu ferimento.
Descobri que ela era enfermeira, e que havia conhecido o marido enquanto o socorria em um hospital alemão. Uma história bem comum na época, muitos se conheciam assim. Nós conversamos por muito tempo novamente. Porém dessa vez nossa conversa se tornou mais íntima, e acabei percebendo o quanto ela era infeliz. Nunca tivera filhos, e o marido só aparecia a cada três meses. Rosa era uma mulher da elite belo-horizontina, entretanto, uma mulher solitária. Apesar do desejo de beijá-la, eu era tímido demais para isso. Foram suas mãos que primeiro acariciaram meus cabelos e depois sua boca que colou na minha. Logo nossos corpos fizeram o mesmo.
Eu era um poço de felicidade, porém, Rosa estava se achando a pior das pecadoras. Falou que havia abusado de minha inocência, que tinha idade para ser minha mãe. Ela estava desesperada e me pediu para que não contasse para ninguém. Eu concordei dizendo que jamais falaria sobre aquilo. Falei que a amava, mas ela me disse que eu estava apenas sendo levado pelo momento, que não devia acreditar naquilo.
Então ela finalmente falou o que mais me magoou. Que não poderia mais me ver. Isso acabou comigo, era como se cem facas cegas tentassem cortar a minha carne sem nenhuma pressa. Não me importava em nunca mais sentir o toque de seus lábios ou o calor de seu corpo; eu apenas queria sua companhia às vezes. Deixei a casa, talvez com o braço melhor, porém com a alma dilacerada. Dois anos se passaram rapidamente, e meus pais me mandaram para estudar no rio de janeiro. Conheci diversas moças, e por um tempo me esqueci de Rosa. Fiquei noivo de uma jovem carioca chamada Lourdes, finalmente era feliz de novo.
Em 1936 retornei a Belo horizonte, Tanto para anunciar aos meus pais o noivado, tanto para ver a exposição de arte moderna que acontecia na cidade naquele ano. Foi então que a vi novamente, e percebi que o impossível estava acontecendo. O tempo estava lançando seu impiedoso olhar sobre Rosa. Em apenas quatro anos os sinais da velhice a alcançara. Já apresentava algumas rugas, mas o que mais chamava a atenção eram seus olhos, antes tão vivos, e agora pareciam tristes e perdidos.
Tomei coragem e fui falar com ela. Eu não esperava, mas ela foi receptiva e calorosa comigo. Falou que eu tinha me tornado um belo rapaz. Conversamos menos intimamente do que daquelas duas vezes. Falei com ela que estava noivo e que me casaria quando me formasse. Ela me deu os parabéns e desejou que eu fosse muito feliz.
Então me despedi dela, porém fui impedido de ir embora por sua mão trêmula, que segurava na manga do meu terno. Me virei para ela e por um momento achei que fosse me beijar; mas eu estava enganado. “Rosa sussurrou ao meu ouvido: “Obrigado” E antes que eu pudesse me perguntar o porquê ela continuou: “Obrigado por me fazer lembrar de quem eu realmente sou, obrigado por me emprestar seu tempo, obrigado por aquecer essa alma que a muito tempo estava perdida no frio e vazio da solidão.Obrigado por simplesmente prestar atenção em mim, e por me fazer sentir como algo vivo de novo. Você me deu em dois dias o que eu não tive em 16 anos de casamento. “Oh meu Deus como eu te amo.”
Ela havia me enganado. Minha Medéia.Como podia ter dito aquelas coisas quatro anos atrás? Estava confuso, e finalmente fiz a única coisa que poderia ser feita naquele momento. A abracei e beijei, em meio à exposição, não me importando com quem estivesse ali e o que estivessem pensando. Estava tão feliz que era como se nada existisse; Lourdes, meus pais, Todos os habitantes de BH que presenciavam aquela cena. A única coisa que importava é que ela estava em meus braços.
Mais tarde ela me disse que havia se desquitado do marido. Que não se importava, mas não agüentava mais aquele casamento. Agora era mal vista pela sociedade, e que não mais se importava. A única coisa que importava era sua filha a pequena Maria. Perguntei a idade da menina, na hora não se passava pela minha cabeça que ela poderia ser minha filha,o que fiquei sabendo algumas semanas mais tarde. Vi que agora não conseguiria abandonar Rosa, mesmo com sua insistência para que me casasse com Lourdes.
Voltei ao rio, terminei a faculdade e também o noivado que havia deixado pendente. Novamente em Belo horizonte, me casei com Rosa e vivi com ela até o inicio dos anos setenta, quando infelizmente ela faleceu.
Hoje tenho 94 anos, e nunca me casei de novo. Estou próximo da morte, posso sentir isso. Não me apavoro diante dela como as pessoas costumam fazer, Deixo aqui meus herdeiros e de Rosa. Meus queridos eu os amo muito e nunca deixarei de amar, tanto quanto como minha medéia, meu amor imortal. Então deixo aqui o meu relato para as futuras gerações. Não importa a idade, o sexo, a raça ou qualquer outro fator que venha a lhe causar alguma dúvida boba e sem razão. Se entregue ao amor, e não se importe com os olhares que lhe serão lançados.

Com Carinho,
Pedro Araújo.

Para nós...

Um auto-retrato hiperbólico....

Para margô e eu.


Eu acreditava que deveria ser como as garotas da televisão. Você não precisa ser muito bonita, nem muito esperta, basta seguir o que eles mandam. Ser muito bonita é sempre bom. Muito esperta jamais. Não deu certo, definitivamente tinha alguma coisa errada comigo. Comprar roupas com as cores do verão, o batom caro daquela linha maravilhosa. Sair com pessoas que me irritavam apenas por que eram “POP”. Por que me importava? As pessoas “normais” sempre agiam assim.

Tentei não me importar, mas não deu certo.Mudei radicalmente minha visão. Agora não me preocupava com as “cores do verão” troquei tudo pelo preto. Dizia não me importar com nada, não ligar pro que pensavam. Se me olhavam com olhos espantados – Mesmo que por dentro eu estivesse morrendo de vergonha - Fazia algo para espantá-los mais. Era assim como todos agiam. Era assim que todos faziam. Acabei percebendo que estava sempre fazendo a mesma coisa, sob uma nova camada de tinta. Desisti de tentar ser alguém.

Alguém é algo muito fácil de achar por aí, igual a uma roupa que se compra, usa, e depois joga fora. Não preciso agradar ninguém, mas posso agradar se assim quiser. Nunca um ou outro apenas. Posso ser parte de uma sociedade. Mas nunca uma sociedade em apenas uma parte.


Vou ser egoísta. Sou apenas Eu

Without a name.

Abaixo posto um conto, inspirado em amigos,em mim, e no mundo ao meu redor.




Foi a primeira vez que enxerguei a morte em toda sua plenitude. Estava de costas na cama, arfando, e sentindo como se uma manada de elefantes pisoteasse meu peito sem piedade. Lágrimas rolavam descontroladamente pelo meu rosto, e chorava mesmo quando achava que já não podia fazê-lo. Abandonaram-me para sempre, aqueles dois. Queria vê-los, tocá-los, sentir novamente a presença acolhedora que os rodeava, queria admirá-los por um simples gesto. Observá-los respirando. Como nunca havia me encontrado deslumbrado por um ato tão solene? Por que não enxergava a mágica por trás da mecânica da vida?
Desejo, sim, apenas o desejo me movia. Estava cego ou me recusava a enxergar o que era realmente belo. Queria o que todos queriam, o senso comum me envolvia e me dominava. Não precisava ser eu mesmo. Não precisava dar valor a aquilo que gostava apenas o que queriam que eu gostasse. Como grande parte das pessoas da minha idade, meus anseios para o futuro saíam da mesma forma de todos. O que importava era passar no vestibular em um curso de prestígio (Com o qual nem ao menos me identifico.), tirar a carteira de motorista, ir a festas sempre. O meu maior medo era não ser aceito na melhor faculdade e ter de tentar de novo. Oh meu Deus! Como isso parecia importante! Agora vejo que não passa de um grão de poeira diante da complexidade da humanidade. O que antes me parecia simples e mundano ganhou uma imensa importância, enquanto o resto perdeu toda sua dignidade e fascínio que antes exercia sobre mim.
Uma namorada! Era isso o que antes faltava para a minha vida ser perfeita, ou como eu desejava, parecer. Na realidade eu não queria uma, mas tentava me enganar falando que queria e precisava! O que eu sempre quis, e desejei - Na verdade amei, pois nem sempre desejo vem acompanhado de amor- era ele. Crescemos juntos, eu, ela e ele inseparáveis na infância, próximos na adolescência, arrancados um da vida do outro no início da vida adulta.
Ela era uma das coisas mais bonitas que eu já havia visto na vida, e não necessariamente na aparência. Sempre estava lá, me apoiando, me criticando, brigando comigo quando necessário, e deve-se mencionar que sempre era necessário. Por mais tolas que fossem (ao menos para mim) nossas desavenças jamais duravam muito, elas ocorriam de maneira natural, como se fizessem parte de nós. Já ele era definitivamente a coisa mais bonita que eu já havia visto e que nunca mais verei. Havia algo melancólico em seus olhos grandes e azuis. Uma amabilidade que achava impossível de existir, e uma delicadeza natural. Ele me disse! Ele me disse seus sentimentos! Por que não o ouvi? Por que não cedi a esse meu desejo que ainda guardava a mais frágil parte de mim? Eu o magoei com minhas palavras ríspidas. (Oh se ele soubesse como eu queria dizer-lhe o contrário!).
Perdi contato com os dois. Agora vejo que eu os abandonei, e não o oposto como disse anteriormente. Eles vieram ao meu encontro quando precisei, e sem saber, ao encontro da morte iminente. Eu estava tonto demais quando o carro capotou então desmaiei. Não pude ver a luta deles para se agarrarem à vida, àquela carne condenada. Morreram me ajudando e eu nada fiz além de magoá-los.
Dois anos se passaram,e ainda sinto a dor latejar no peito como se tudo tivesse acontecido ontem. Tenho uma namorada, um carro, e estou no quinto período de medicina. Vou a festas e conheço pessoas que me adoram. Experiências programadas, tudo feito para contar aos netos mais tarde e parecer legal. Uma vida que ás vezes tem grandes acontecimentos. Mas nada agora importa. Os pequenos e espontâneos momentos que me faziam eu mesmo morreram com aqueles dois no carro. Eu morri naquele carro.

Matriz from hell.

Lá estávamos, Eu, Gustavo e mais uns amigos, em uma de nossas aventuras pela sauna underground( também conhecida como o GARBO “Matriz”, localizado no terminal JK). Adentramos ao sombrio local ( sombrio mesmo num sábado ensolarado às 14:00 da tarde ) com apenas algumas expectativas humildes, como ouvir um bom metal e esperar que o salgado houvesse sido feito naquela mesma semana. NADA absolutamente NADA nos preparava para o que estava por vir.

Os primeiros sinais de anormalidade no COSMOS foi quando nossa elegante amiga, Margô, tentou abduzir um pobre rapaz pela boca. Chocados com tamanha agressividade com a qual ela tentava absorver o jovem, fomos para outro canto e rezamos pela nossa integridade física naquela tarde. SIM REZAMOS. Após uma ou duas horas, quando pensavamos que a FORÇA já havia sido restaurada por mestres jedis, eis que surge o mais “ULTIMAMATE FREAK POWER SHURATO HADOUKEN” ser de todos. Um estranho cabeludo adepto da arte milenar da chapinha, com músculos dignos de um deus ( Da Etiópia.), e o olhar estrábico mais sensual que já havíamos visto. Não demorou muito para que eu e meu companheiro - Que também é conhecido como boca do inferno (Gregório de Matos? ESSE AÍ PERDEU O POSTO APÓS O NASCIMENTO DE GUSTAV!) – Começássemos a difamar o pobre homem. Nossas barrigas já doíam de tanto rir, quando descobrimos que ele era o front man da próxima banda a se apresentar.

As cortinas do palco do aconchegante estabelecimento se fecharam. Eu e Gustavo já estávamos ansiosos pelo “show de horrores” que estava por vir. As cortinas se abrem. Tensão. As guitarras começam a tocar. Mais tensão. Margô ainda é vista em sua tentativa de abdução. HORROR. Uma voz maravilhosa surge em algum lugar, cantando carry on melhor que André Matos ou qualquer pessoa existente. Nossos olhos se direcionam ao palco e vemos que o som é produzido pelo estranho ser. Nesse momento juro que vi lágrimas marejarem nos olhos de Gustavo, mas ele diz que não. Após alguns minutos, o glorioso vocalista direcionou seu olhar lânguido de planária para nós. A mensagem estava clara naqueles olhinhos. Ele dizia com todas as forças “HHUNMMMM SEUS MERDAS”, e tudo que podíamos fazer era concordar.
Conseguimos sair do local com todas as partes do corpo intactas, e também com uma valiosa lição no âmago de nosso ser. Vesgos, japoneses, e muito provavelmente os fanhos, não são desse mundo.



Ps: Mesmo Margô não se encaixando em nenhuma das opções acima, ainda concluimos que ela é um ser extra-terrestre.

domingo, 14 de junho de 2009

E então, que se abram as cortinas !

Ou nesse caso, as janelas.
Depois de muito escrever , arquivar e fazer pequenos papéis em outros blogs, revoltei e resolvi iniciar uma rebelião no palco principal.
Aqui divulgarei minhas idéias, contos, ou qualquer coisa que quiser.
Espero que gostem ^^